O QUE ACONTECEU DE IMPORTANTE NO DIA 07 DE SETEMBRO DE 1822 PARA O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DO BRASIL?
Provavelmente, nada. Nos documentos históricos datados do ano de 1822, tais como jornais, cartas, documentos oficiais etc., nenhum acontecimento realmente importante para o processo de Independência do Brasil é citado como tendo acontecido nesta data. Nem mesmo o famoso “Grito do Ipiranga”, episódio que muitos dizem que ocorreu no dia 07 de setembro de 1822, é citado nos documentos históricos daquele ano. O dia 07 de setembro de 1822 só se tornou um marco simbólico da Independência do Brasil a partir de uma narrativa que foi construída posteriormente para exaltar a figura de D. Pedro I.
ENTÃO, NO ANO DE 1822, QUAIS OUTRAS DATAS FORAM CONSIDERADAS IMPORTANTES PARA A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL?
Ao longo do ano de 1822, algumas datas realmente consideradas importantes para o processo de Independência do Brasil foram:
09/01/1822: o “Dia do Fico”, em que D. Pedro declarou que iria permanecer no Brasil;
04/05/1822: o dia em que um Decreto determinou que qualquer ordem vinda de Portugal só seria obedecida no Brasil após o “Cumpra-se” de D. Pedro;
13/05/1822: o dia em que D. Pedro recebeu o título de “protetor e defensor perpétuo do Brasil”;
03/06/1822: o dia em que houve a convocação de uma Assembleia Constituinte para o Brasil;
01/08/1822: o dia em que as tropas vindas de Portugal foram declaradas inimigas do Brasil;
06/08/1822: o dia da publicação do Manifesto aos Governos e Nações Amigas, em que se pedia apoio à Independência do Brasil;
12/10/1822: o dia da aclamação de D. Pedro I como imperador do Brasil;
01/12/1822: o dia da coroação e sagração do imperador D. Pedro I.
O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DO BRASIL ACONTECEU DE MANEIRA PACÍFICA E SEM NENHUM TIPO DE CONFLITO ARMADO?
Não. Ao contrário do que muita gente acredita até hoje, o processo de Independência do Brasil não aconteceu de maneira pacífica. Na época, nem todas as pessoas que viviam na América Portuguesa defendiam a completa Independência do Brasil em relação a Portugal. Vários soldados portugueses que viviam no Brasil, por exemplo, foram contra a Independência do Brasil porque continuavam fiéis a Portugal. Tal fato gerou inúmeros conflitos armados em várias regiões, tais como: Maranhão, Ceará, Grão-Pará, Província Cisplatina, Piauí e Bahia. Na Bahia, por exemplo, os conflitos duraram até 1823.
Além disso, para se melhor compreender o processo de Independência do Brasil, é preciso analisar o contexto histórico mais amplo. Dessa maneira, é possível identificar diversos episódios de violência ocorridos na época, como as guerras empreendidas pelas autoridades contra vários povos indígenas e os atos de violência praticados contra os negros escravizados que viviam no Brasil. Também vale lembrar os conflitos armados ocorridos no âmbito da Revolução de 1817, em Pernambuco, e no âmbito das disputas pelo controle da Banda Oriental (região que se tornaria a Província Cisplatina, atual Uruguai).
NA ÉPOCA, TODAS AS PESSOAS QUE VIVIAM NO BRASIL ACEITARAM DE IMEDIATO QUE D. PEDRO I GOVERNASSE O PAÍS?
Não, nem todo mundo que vivia no Brasil na época do processo de Independência aceitou de imediato que D. Pedro I governasse o país. Na província do Grão-Pará, situada na região amazônica, por exemplo, soldados de baixa patente, pequenos trabalhadores, indígenas e negros escravizados não aceitaram se submeter ao governo de D. Pedro I e acabaram se rebelando. O imperador precisou fazer uso de forças militares para anexar a região, reprimindo violentamente os rebeldes e garantindo que o Grão-Pará passasse finalmente a fazer parte do novo Império a partir do ano de 1823.
Já na província de Minas Gerais, membros das elites locais liderados pelo tenente-coronel José Maria Pinto Peixoto – comandante das Armas de Minas Gerais – instalaram em Vila Rica (atual Ouro Preto) uma Junta Governativa que pretendia garantir a autonomia da região tanto em relação às Cortes de Lisboa quanto em relação a D. Pedro. Para garantir o apoio de Minas Gerais ao seu governo, D. Pedro precisou viajar até a província no final de março de 1822 para dialogar pessoalmente com as lideranças locais e convencê-las a lhe dar apoio político, o que acabou acontecendo após as negociações.
D. PEDRO I FOI O ÚNICO RESPONSÁVEL NA ÉPOCA PELO PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DO BRASIL?
Embora muitas pessoas ainda acreditem que D. Pedro I foi o único responsável pela Independência do Brasil, a verdade é que ele não agiu sozinho. Afinal, vários membros das elites políticas e econômicas também atuaram naquele processo em defesa dos seus próprios interesses. Até D. Leopoldina (esposa de D. Pedro) participou dos debates acerca da Independência na época. Vale lembrar ainda que diversos grupos oriundos das camadas populares também participaram dos conflitos ocorridos no período, como em Pernambuco (na Revolução de 1817) e nas províncias do Grão-Pará, do Piauí e da Bahia, por exemplo.
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