O REINO INGLÊS
No
início do período medieval, a Grã-Bretanha foi ocupada por anglos e saxões.
Como o rei anglo-saxão Eduardo, o Confessor (1042-1066), morreu sem deixar filhos herdeiros, houve uma disputa pelo trono. Em 1066, normandos
vindos do norte da atual França invadiram a ilha e, sob a liderança de Guilherme,
o Conquistador (primo de Eduardo), derrotaram os anglo-saxões na
Batalha de Hastings, dando início à Dinastia Normanda.
Desenvolveu-se um sistema administrativo para cobrança de impostos e um forte
exército foi criado. Guilherme (1066-1087) dividiu o reino em condados, os
“shires”, controlados pela nobreza e fiscalizados por funcionários chamados
“sheriffs”.
No mapa se vê a rota feita por Guilherme, o Conquistador, que saiu da Normandia (norte da França) para invadir e conquistar a Inglaterra em 1066. Imagem da internet.
Em
1154, a Dinastia Plantageneta substituiu a Dinastia Normanda
quando Henrique II (1154-1189) subiu ao trono. Os monarcas da
Dinastia Plantageneta estabeleceram a justiça real e o “Common Law”, um
conjunto de leis que deveria ser aplicado em todo o território.
Ricardo
I, ou Ricardo Coração de Leão (1189-1199), foi o sucessor de
Henrique II. Ricardo I se envolveu em guerras contra a França e participou da
Terceira Cruzada, contribuindo com sua ausência para enfraquecer o poder real
na Inglaterra. No reinado de João Sem-Terra (1199-1216), irmão
de Ricardo, a insatisfação dos nobres com o rei atingiu o seu ponto máximo.
Guerreando
contra a França, indispondo-se com o papa, elevando os impostos e tentando
taxar os bens da Igreja, João Sem-Terra acabou tendo que enfrentar a revolta da
nobreza, que lhe impôs a Magna Carta (1215). Segundo o
documento, o monarca só poderia criar impostos ou alterar leis após a aprovação
do Grande Conselho, órgão controlado por membros do clero e da
nobreza.
Ilustração que retrata o momento em que o rei João Sem-Terra assinou a Magna Carta.
Imagem da internet.
Portanto,
o processo de centralização política na Inglaterra foi retardado por meio dessa
limitação ao poder real. Controlado por membros da velha ordem feudal, o Grande
Conselho tinha um caráter conservador, e só aceitou a participação de burgueses
em 1265.
Em
decorrência da disputa de territórios no norte da Europa, como a próspera
região têxtil de Flandres, a Inglaterra se envolveu na Guerra
dos Cem Anos (1337-1453) contra a França. Os ingleses obtiveram vitórias iniciais
importantes, mas passaram a enfrentar alguns problemas, tais como a peste
negra, as rebeliões camponesas (destacando-se o levante liderado por Wat Tyler
e John Ball, em 1381) e o próprio prolongamento da guerra. Neste contexto, houve o
enfraquecimento da nobreza.
Com
o fim da Guerra dos Cem Anos, já no século XV, começou uma disputa pela
sucessão do trono inglês que afetaria ainda mais a nobreza: a Guerra
das Duas Rosas (1455-1485), confronto entre as famílias York e Lancaster,
fragilizou a nobreza e possibilitou a centralização política do país com a ascensão de Henrique Tudor ao poder.
O REINO FRANCÊS
A Dinastia
Capetíngia (987-1328), fundada por Hugo Capeto, atuou na
centralização do poder no reino francês. Um dos reis dessa dinastia foi Filipe Augusto,
ou Filipe II (1180-1223), que iniciou o processo centralizador
ao cobrar impostos em todo o território francês e montar um poderoso exército
para garantir o seu poder. Filipe II usou como pretexto para realizar tais
ações a necessidade de combater os ingleses que ocupavam o norte da França. A
antiga monarquia feudal, centrada nos feudos e marcada pela atuação de
suseranos e vassalos locais, dava lugar a um Estado centralizado.
Após
vencer os ingleses, Filipe II consolidou o seu poder por meio da força militar,
da cobrança de impostos realizada por fiscais por ele nomeados e da imposição
da justiça real sobre as leis dos nobres locais. O monarca aliou-se à burguesia
vendendo Cartas de Franquia aos burgos que quisessem autonomia
em relação aos senhores feudais. Já para os nobres territoriais, a força
monárquica serviu para garantir os privilégios da nobreza e manter a ordem e a
subordinação servil.
Luís
IX,
cujo reinado durou de 1226 a 1270, deu continuidade ao processo de
centralização por meio de uma rede de tribunais e da instituição de uma moeda
de circulação nacional. Tendo participado da Sétima e da Oitava Cruzadas,
falecendo nesta última, sendo posteriormente canonizado pela Igreja católica como São Luís.
Ao
herdar um Estado já fortalecido, Filipe IV, o Belo, cujo reinado
durou de 1285 a 1314, procurou legitimar o seu poder criando a assembleia
dos Estados Gerais, em 1302, sob o primado da soberania real. Formada por
membros do clero, da nobreza e por comerciantes das cidades, a assembleia tinha
um caráter apenas consultivo e só era convocada quando o monarca queria.
Representantes das camadas mais pobres da sociedade francesa não participavam
da assembleia.
Com
o apoio da assembleia, Filipe IV taxou os bens da Igreja e o papa até o ameaçou
de excomunhão. Com a morte do líder da Igreja católica em 1303, Filipe IV
interferiu na escolha de seu sucessor, impondo o nome de um francês que viria a
ser o papa Clemente V. Além disso, o rei francês forçou a transferência da sede
da Igreja de Roma para a cidade de Avignon, no sul da França, em um episódio
que ficou conhecido como o Cativeiro de Avignon. Durante setenta
anos os papas ficaram submetidos à autoridade do rei da França. Quando outro
papa foi nomeado em Roma durante o mesmo período, ocorreu o Cisma do
Ocidente que dividiu a autoridade da Igreja católica, em uma situação que só seria superada no século XV.
O
fortalecimento do poder monárquico francês foi suspenso com a Guerra
dos Cem Anos (1337-1453). Necessitando da nobreza para fortalecer o
exército, a monarquia francesa teve de fazer concessões aos nobres. Ademais, a
fome, a peste negra e a insatisfação da burguesia com as primeiras derrotas no
confronto também colaboraram para o enfraquecimento da monarquia francesa.
Eclodiram então as “jacqueries”, rebeliões camponesas como a ocorrida em 1358,
quando castelos foram invadidos e senhores foram mortos. Essas rebeliões foram
reprimidas pelo Estado e pela nobreza.
Iluminura do século XIV que retrata uma revolta camponesa ocorrida na França e que ficou conhecida como "o Massacre em Meaux". Imagem da internet.
Vitórias
militares decisivas na Guerra dos Cem Anos vieram apenas no século XV, quando
um grande levante popular se voltou contra os ingleses. Joana d’Arc,
filha de camponeses humildes que se dizia enviada por Deus para guiar os
franceses na expulsão do exército inglês, participou ativamente das lutas e
teve um papel importante na resistência francesa à Inglaterra. Ela levou Carlos
VII a ser coroado em Reims, conforme as antigas tradições dos francos,
mas em 1430 foi capturada, acusada de heresia e condenada à morte por
um tribunal eclesiástico.