As
estruturas feudais eram um obstáculo ao desenvolvimento comercial e urbano na
Europa. Os vários feudos e os seus poderes locais atrapalhavam o comércio, pois
os senhores feudais interferiam na atividade comercial cobrando impostos dos
mercadores. Ademais, por conta da fragmentação política, não havia na Europa
uniformidade territorial de leis, unidade monetária legal ou mesmo de pesos e
medidas, algo que atrapalhava as transações comerciais.
A
partir disso, comerciantes, artesãos e banqueiros passaram a defender a
existência de um poder centralizado que se colocasse acima dos poderes locais,
impusesse normas e também facilitasse o comércio. Essa burguesia europeia
acabou contribuindo para a formação de um exército mercenário a serviço do Estado,
uma força militar que tinha como finalidade garantir a autoridade do monarca. A
ideia de centralização política também agradou aos reis europeus, que desejavam
se sobrepor à nobreza e limitar o poder da Igreja.
A
formação das monarquias centralizadas europeias, portanto, foi fruto da
comunhão de interesses entre reis e burgueses. Por sua vez, a nobreza também
acabou se beneficiando deste processo, pois o exército do rei garantia a ordem
contra as rebeliões rurais e mantinha boa parte dos privilégios feudais. Quanto
aos camponeses, muitos passaram a ver a figura do rei como alguém que poderia
protegê-los dos abusos de poder por parte dos senhores feudais. Dessa maneira,
a formação de monarquias centralizadas agradava a diferentes grupos sociais.
PORTUGAL
A
Península Ibérica foi povoada por iberos, celtas, lígures, visigodos e árabes,
estes últimos que lá chegaram no século VIII. A formação dos Estados
centralizados na região está vinculada à Guerra de Reconquista dos
territórios ocupados por muçulmanos. Foi graças à presença árabe que a religião
islâmica chegou até a Península Ibérica, onde o cristianismo já se fazia
presente. Os reinos cristãos independentes de Leão, Castela, Navarra e Aragão foram mantidos no norte da península, na região montanhosa
das Astúrias, e foi dali que partiu o movimento da Reconquista a partir do
século XI.
A presença histórica de cristãos e muçulmanos na Península Ibérica pode ser percebida por meio da arquitetura. As duas imagens acima mostram a Igreja de Alhos Vedros (Portugal), na qual a torre sineira cristã está unida a uma cúpula árabe.
Imagens da internet.
A
origem de Portugal remonta ao episódio da doação do Condado
Portucalense feita pelo rei Afonso VI, de Leão e Castela, a Henrique
de Borgonha, este último sendo um nobre francês participante da Guerra de
Reconquista. A doação daquelas terras estava atrelada ao casamento entre
Henrique de Borgonha e dona Teresa, filha ilegítima do rei. Em 1139, após
disputas familiares, Portugal tornou-se independente de Leão e Castela, quando dom
Afonso Henriques, o filho de Teresa e Henrique, expulsou a própria mãe do
lugar porque ela defendia a sujeição do Condado Portucalense ao Reino de Leão.
A origem de Portugal está relacionada à doação do Condado Portucalense feita pelo rei Afonso VI, de Leão e Castela, a um nobre francês chamado Henrique de Borgonha. Imagem da internet.
A
partir daquele momento iniciou-se a Dinastia de Borgonha (1139-1383),
que continuou a guerra contra os muçulmanos e expandiu as fronteiras do reino
para o sul. Com a expansão territorial, áreas eram doadas à nobreza guerreira,
mas esses nobres não ganhavam a posse hereditária das terras. Em Portugal,
portanto, a hegemonia da autoridade real foi mantida, enquanto que a formação
de uma nobreza proprietária e autônoma não foi consolidada.
Com
a transformação de Portugal em escala da rota marítima que ligava o mar
Mediterrâneo ao norte da Europa, houve a consolidação do setor mercantil da
sociedade portuguesa. A partir do século XIV, as guerras e a peste negra
abalaram o continente europeu, aumentando a insegurança de rotas comerciais
terrestres, o que fez com que a rota marítima que passava por Portugal ganhasse
mais importância.
Em
1383, morreu Fernando I, o último rei da Dinastia de Borgonha, que
não deixou herdeiros diretos. Houve então uma intensa disputa sucessória, pois
parte da nobreza apoiava a entrega da Coroa portuguesa ao genro de dom
Fernando, o rei de Castela, enquanto os comerciantes e setores populares
queriam que dom João, mestre de Avis, subisse ao trono. Foi a
chamada Revolução de Avis, e em 1385, na Batalha de Aljubarrota, as tropas castelhanas foram derrotadas. Dom
João ascendeu ao trono e iniciou a Dinastia
de Avis.
Com
a nova dinastia, os interesses da monarquia e os do setor mercantil se
aproximaram, pois os comerciantes queriam ampliar seus mercados e o rei queria
fortalecer-se no poder por meio da cobrança de impostos. Tal aliança
desencadearia a expansão marítima portuguesa a partir do século XV.
ESPANHA
ESPANHA
Durante
os tempos da Guerra de Reconquista, não havia um país chamado “Espanha”, pois o
que se tinha eram os reinos de Leão, Navarra, Castela e Aragão. Com o passar do tempo, estes reinos foram se unindo uns aos outros por meio de alianças e casamentos. Em 1469, houve o casamento entre Fernando, príncipe de Aragão, e Isabel, filha do rei de Castela. Após a morte do rei de Castela, Isabel e Fernando decidiram unificar as duas coroas, o que representou um importante passo na formação da Espanha tal como a conhecemos hoje.
Fernando e Isabel ficaram
conhecidos como os “Reis Católicos”, especialmente após terem firmado uma aliança com a Igreja Católica para expulsar muçulmanos e judeus da Península Ibérica. Em 1478, o papa Sixto IV criou o Tribunal do Santo Ofício (também conhecido como Inquisição) na Espanha, tribunal este que estava subordinado a Fernando e Isabel. A Inquisição espanhola encarregou-se de perseguir e punir pessoas que fossem acusadas de praticarem outras religiões diferentes da católica.
Em 1492, a formação do Estado centralizado espanhol foi concluída após os "Reis Católicos" expulsarem os judeus do seu país e conquistarem o reino de Granada, o último reduto árabe no sul da Península Ibérica, com a consequente expulsão dos "mouros".
Representação de uma sala de interrogatório da Inquisição em uma obra do artista Alessandro Magnasco. Este quadro foi produzido entre 1710 e 1720. Imagem da internet.
Em 1492, a formação do Estado centralizado espanhol foi concluída após os "Reis Católicos" expulsarem os judeus do seu país e conquistarem o reino de Granada, o último reduto árabe no sul da Península Ibérica, com a consequente expulsão dos "mouros".
A Guerra de Reconquista foi o pano de fundo para a formação de Portugal e Espanha.
A ampliação dos territórios desses dois países ocorreu simultaneamente à diminuição dos territórios ocupados por muçulmanos na Península Ibérica. Imagem da internet.
Mapa que mostra as atuais dimensões de Portugal e Espanha na Península Ibérica.
Imagem da internet.