segunda-feira, 24 de setembro de 2018

A Centralização do Poder nas Mãos dos Reis: a formação de Portugal e Espanha

As estruturas feudais eram um obstáculo ao desenvolvimento comercial e urbano na Europa. Os vários feudos e os seus poderes locais atrapalhavam o comércio, pois os senhores feudais interferiam na atividade comercial cobrando impostos dos mercadores. Ademais, por conta da fragmentação política, não havia na Europa uniformidade territorial de leis, unidade monetária legal ou mesmo de pesos e medidas, algo que atrapalhava as transações comerciais.

A partir disso, comerciantes, artesãos e banqueiros passaram a defender a existência de um poder centralizado que se colocasse acima dos poderes locais, impusesse normas e também facilitasse o comércio. Essa burguesia europeia acabou contribuindo para a formação de um exército mercenário a serviço do Estado, uma força militar que tinha como finalidade garantir a autoridade do monarca. A ideia de centralização política também agradou aos reis europeus, que desejavam se sobrepor à nobreza e limitar o poder da Igreja.

A formação das monarquias centralizadas europeias, portanto, foi fruto da comunhão de interesses entre reis e burgueses. Por sua vez, a nobreza também acabou se beneficiando deste processo, pois o exército do rei garantia a ordem contra as rebeliões rurais e mantinha boa parte dos privilégios feudais. Quanto aos camponeses, muitos passaram a ver a figura do rei como alguém que poderia protegê-los dos abusos de poder por parte dos senhores feudais. Dessa maneira, a formação de monarquias centralizadas agradava a diferentes grupos sociais.


PORTUGAL

A Península Ibérica foi povoada por iberos, celtas, lígures, visigodos e árabes, estes últimos que lá chegaram no século VIII. A formação dos Estados centralizados na região está vinculada à Guerra de Reconquista dos territórios ocupados por muçulmanos. Foi graças à presença árabe que a religião islâmica chegou até a Península Ibérica, onde o cristianismo já se fazia presente. Os reinos cristãos independentes de Leão, Castela, Navarra e Aragão foram mantidos no norte da península, na região montanhosa das Astúrias, e foi dali que partiu o movimento da Reconquista a partir do século XI.




A presença histórica de cristãos e muçulmanos na Península Ibérica pode ser percebida por meio da arquitetura. As duas imagens acima mostram a Igreja de Alhos Vedros (Portugal), na qual a torre sineira cristã está unida a uma cúpula árabe.
Imagens da internet.  

A origem de Portugal remonta ao episódio da doação do Condado Portucalense feita pelo rei Afonso VI, de Leão e Castela, a Henrique de Borgonha, este último sendo um nobre francês participante da Guerra de Reconquista. A doação daquelas terras estava atrelada ao casamento entre Henrique de Borgonha e dona Teresa, filha ilegítima do rei. Em 1139, após disputas familiares, Portugal tornou-se independente de Leão e Castela, quando dom Afonso Henriques, o filho de Teresa e Henrique, expulsou a própria mãe do lugar porque ela defendia a sujeição do Condado Portucalense ao Reino de Leão.


A origem de Portugal está relacionada à doação do Condado Portucalense feita pelo rei Afonso VI, de Leão e Castela, a um nobre francês chamado Henrique de Borgonha. Imagem da internet.

A partir daquele momento iniciou-se a Dinastia de Borgonha (1139-1383), que continuou a guerra contra os muçulmanos e expandiu as fronteiras do reino para o sul. Com a expansão territorial, áreas eram doadas à nobreza guerreira, mas esses nobres não ganhavam a posse hereditária das terras. Em Portugal, portanto, a hegemonia da autoridade real foi mantida, enquanto que a formação de uma nobreza proprietária e autônoma não foi consolidada.

Com a transformação de Portugal em escala da rota marítima que ligava o mar Mediterrâneo ao norte da Europa, houve a consolidação do setor mercantil da sociedade portuguesa. A partir do século XIV, as guerras e a peste negra abalaram o continente europeu, aumentando a insegurança de rotas comerciais terrestres, o que fez com que a rota marítima que passava por Portugal ganhasse mais importância.

Em 1383, morreu Fernando I, o último rei da Dinastia de Borgonha, que não deixou herdeiros diretos. Houve então uma intensa disputa sucessória, pois parte da nobreza apoiava a entrega da Coroa portuguesa ao genro de dom Fernando, o rei de Castela, enquanto os comerciantes e setores populares queriam que dom João, mestre de Avis, subisse ao trono. Foi a chamada Revolução de Avis, e em 1385, na Batalha de Aljubarrota, as tropas castelhanas foram derrotadas. Dom João ascendeu ao trono e iniciou a Dinastia de Avis.

Com a nova dinastia, os interesses da monarquia e os do setor mercantil se aproximaram, pois os comerciantes queriam ampliar seus mercados e o rei queria fortalecer-se no poder por meio da cobrança de impostos. Tal aliança desencadearia a expansão marítima portuguesa a partir do século XV.


ESPANHA

Durante os tempos da Guerra de Reconquista, não havia um país chamado “Espanha”, pois o que se tinha eram os reinos de Leão, Navarra, Castela e Aragão. Com o passar do tempo, estes reinos foram se unindo uns aos outros por meio de alianças e casamentos. Em 1469, houve o casamento entre Fernando, príncipe de Aragão, e Isabel, filha do rei de Castela. Após a morte do rei de Castela, Isabel e Fernando decidiram unificar as duas coroas, o que representou um importante passo na formação da Espanha tal como a conhecemos hoje.

Fernando e Isabel ficaram conhecidos como os “Reis Católicos”, especialmente após terem firmado uma aliança com a Igreja Católica para expulsar muçulmanos e judeus da Península Ibérica. Em 1478, o papa Sixto IV criou o Tribunal do Santo Ofício (também conhecido como Inquisição) na Espanha, tribunal este que estava subordinado a Fernando e Isabel. A Inquisição espanhola encarregou-se de perseguir e punir pessoas que fossem acusadas de praticarem outras religiões diferentes da católica.


Representação de uma sala de interrogatório da Inquisição em uma obra do artista Alessandro Magnasco. Este quadro foi produzido entre 1710 e 1720. Imagem da internet.

Em 1492, a formação do Estado centralizado espanhol foi concluída após os "Reis Católicos" expulsarem os judeus do seu país e conquistarem o reino de Granada, o último reduto árabe no sul da Península Ibérica, com a consequente expulsão dos "mouros".


A Guerra de Reconquista foi o pano de fundo para a formação de Portugal e Espanha. 
A ampliação dos territórios desses dois países ocorreu simultaneamente à diminuição dos territórios ocupados por muçulmanos na Península Ibérica. Imagem da internet.

Mapa que mostra as atuais dimensões de Portugal e Espanha na Península Ibérica.
Imagem da internet.